Uma praça Tahir na Europa?
20/05/2011
Novas e inéditas mobilizações na Espanha
Por Pedro Fuentes
São novas formas de responder às medidas de austeridade tomadas pelo governo socialista, que incluem um forte ajuste fiscal e corte nos salários, além do aumento da idade de aposentadoria para os 67 anos, entre outras medidas que acabaram de ser negociadas entre o governo e a burocracia sindical da CCOO e da UGT2.As mobilizações ocorridas até agora na Espanha, na Itália, na Alemanha, na França, na Inglaterra tiveram um caráter defensivo e de resistência às medidas de ajuste. Foram mobilizações fortes e massivas convocadas pelas centrais sindicais que são controladas por dirigentes reformistas que têm tido como política, a pressão para negociar medidas de ajudes mais suaves.A novidade da mobilização na Espanha – e talvez, também na Grécia, onde há alguns dias ocorreu a segunda greve geral desse ano – é que, nesses países, a mobilização tem dois aspectos que se destacar: 1) ela possui um caráter político, levanta reivindicações democráticas e anticapitalistas e 2) se constrói à margem – no caso da Espanha – ou ultrapassa os limites – no caso da Grécia – das organizações controladas pelas direções tradicionais, vinculadas à socialdemocracia e aos Partidos Comunistas.Por isso mesmo, a nova onda de protestos na Espanha parece um contágio das mobilizações que antecederam as revoluções na Tunísia e no Egito. Nesses países, a juventude e o povo se levantaram contra os regimes autoritários e contra a fome e o desemprego que assolavam suas economias impactadas pela crise capitalista mundial.No velho continente há regimes democráticos burgueses. Mas ainda que não haja ditaduras, a crise econômica é gravíssima e desnuda, cada vez mais, o papel dos velhos partidos no poder, que estão cada vez mais distanciados das necessidades do povo e, por outro lado, mais vinculados às grandes corporações e aos banqueiros.Seria fazer uma análise voluntarista crer que, a partir dessas novas mobilizações, já estejamos vivendo também as revoluções na Europa; mas seria também um erro – talvez mais grave – não ver as conexões existentes entre os processos vividos nos países de ambos os lados do Mediterrâneo.A Europa está no centro da crise econômica mundial. Uma crise que tocou toda a estrutura política e econômica da União Europeia, esse grande projeto da burguesia imperialista que, nos anos 80 e 90 aparecia como o melhor exemplo de sucesso, sob o auge da globalização e do neoliberalismo. Hoje, a União Europeia está se afundando, suas classes dominantes mostram sua incapacidade para administrar uma saída para a crise; elas já não podem levar adiante o resgate de suas economias mais débeis – Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda e Finlândia. Já está caindo a livre circulação por suas fronteiras; Dinamarca deixou de lado os progressivos acordos que permitam essa circulação sem controle.A situação europeia mudou e, por isso mesmo, essas mobilizações na Espanha aparecem como o aviso de situações que, com suas características próprias e particularidades – dentre as quais destacamos o caráter marcadamente anticapitalista – se produzem nesse continente como um todo.
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